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O Evangelho de Lucas utiliza nomes hebraicos e imagens teológicas para apresentar Maria como um símbolo de “Israel Virgem”, um conceito profundamente enraizado nas escrituras e tradições judaicas. Ao conectar Maria a figuras do Antigo Testamento, como Miriã, e apresentá-la como uma representante ideal do povo de Deus, Lucas destaca sua identidade judaica e seu papel central na história da salvação. Este artigo examina a importância dos nomes hebraicos, particularmente a conexão de Maria com Miriã, e as implicações teológicas de retratá-la como Israel Virgem.
O nome Maria, derivado do hebraico Miriã, carrega um significado profundo no Evangelho de Lucas. No Antigo Testamento, Miriã, irmã de Moisés e Arão, é uma profetisa que testemunha a libertação de Israel por Deus (Êxodo 15:20-21, ACR: “Então Miriã, a profetisa, irmã de Arão, tomou o tamboril na sua mão, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamboris e com danças. E Miriã lhes respondia: Cantai ao Senhor, porque gloriosamente triunfou; lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro”). Sua fé no poder salvador de Deus, demonstrada quando lidera as mulheres em uma dança jubilosa após a travessia do Mar Vermelho, prefigura o papel de Maria no Novo Testamento. Lucas 1:28-30 registra Gabriel saudando Maria como “agraciada” (ACR: “E, entrando o anjo onde ela estava, disse: Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres”), ecoando o favor divino mostrado a Miriã durante o êxodo de Israel. A resposta de Maria, “Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra” (Lucas 1:38, ACR), reflete a mesma confiança e obediência de sua homônima, que confiou Moisés aos cuidados de Deus (Êxodo 2:1-10).
A conexão entre Maria e Miriã é obscurecida em traduções para o português, que traduzem o hebraico Miriã e o grego Mariam/Maria de forma inconsistente. Essa divisão linguística pode mascarar os paralelos intencionais, já que o Novo Testamento foi escrito em grego, enquanto o Antigo Testamento é traduzido do hebraico. Ao reconhecer Maria como Miriã, vemos que ela é uma continuação da tradição profética de mulheres judaicas fiéis que confiam nos atos redentores de Deus. Seu Magnificat (Lucas 1:46-55, ACR) espelha o cântico de louvor de Miriã, celebrando as grandes obras de Deus e Sua fidelidade à aliança com Israel (Êxodo 15:21, ACR).
O conceito de “Israel Virgem” enriquece ainda mais a representação de Maria. Nas escrituras hebraicas, Israel é frequentemente descrito como uma virgem, simbolizando pureza e fidelidade à aliança (Jeremias 31:4, ACR: “Ainda te edificarei, e serás edificada, ó virgem de Israel; ainda serás adornada com os teus tamboris, e sairás nas danças dos que se alegram”; Amós 5:2; Isaías 37:22). A tradução da Septuaginta de Isaías 7:14, que traduz o hebraico “almah” (jovem) como “parthenos” (virgem), provavelmente reflete essa tradição teológica. Tradutores judaicos podem ter visto a “jovem” como um símbolo de Israel, cuja fidelidade culmina no nascimento do Messias. Lucas adota essa imagem, apresentando Maria como a personificação de Israel Virgem — obediente, fiel e escolhida para dar à luz o Salvador prometido.
A controvérsia sobre Isaías 7:14, frequentemente citada em apologéticas cristãs para sustentar a virgindade de Maria, é menos divisiva quando vista sob essa perspectiva. O hebraico “almah” denota uma jovem, não necessariamente uma virgem, mas o “parthenos” da Septuaginta alinha-se com a representação profética de Israel como virgem. O uso dessa imagem por Lucas sugere que Maria representa o remanescente fiel de Israel, cuja obediência cumpre as promessas da aliança de Deus. Sua virgindade, embora significativa, é secundária ao seu papel como símbolo da pureza e confiança de Israel em Deus.
A conexão de Maria com o reino davídico reforça esse simbolismo. O anúncio de Gabriel de que Jesus herdará “o trono de Davi, seu pai” e “reinará eternamente sobre a casa de Jacó” (Lucas 1:32-33, ACR) liga Maria às promessas messiânicas de 2 Samuel 7:12-16 (ACR: “Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti um teu descendente, que sairá das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino”). Como descendente de Davi por meio de José (Lucas 1:27), Maria torna-se o canal por meio do qual a aliança de Deus com Davi é cumprida. Seu papel como Israel Virgem, portanto, une as alianças abraâmica e davídica, conectando o passado de Israel ao seu futuro messiânico.
Os nomes de outras figuras na narrativa de Lucas, como Isabel (Elisheva, que significa “Meu Deus é fiel”), reforçam ainda mais essa continuidade judaica. Isabel, como a Elisheva do Antigo Testamento, esposa de Arão, representa a fidelidade sacerdotal, complementando o papel profético de Maria. A interação desses nomes — Miriã e Elisheva — evoca a narrativa do êxodo, onde mulheres fiéis desempenharam papéis-chave na libertação de Deus. O uso de nomes hebraicos por Lucas serve, assim, como um marcador teológico, ancorando o Evangelho na história da aliança de Israel.
O encontro de Maria com Isabel (Lucas 1:39-45) destaca seu papel como Israel Virgem. O reconhecimento cheio do Espírito de Isabel de Maria como “a mãe do meu Senhor” (Lucas 1:43, ACR) e “bendita entre as mulheres” (Lucas 1:42, ACR) eleva Maria como o ápice da fidelidade de Israel. Esse momento é paralelo à representação do Antigo Testamento de Israel como o escolhido de Deus, separado para Seus propósitos redentores. O Magnificat de Maria, com ecos da oração de Ana (1 Samuel 2:1-10, ACR), alinha-a ainda mais com a tradição de Israel de louvar a Deus por Sua justiça e misericórdia.
A cena da manjedoura em Lucas 2:7 também carrega significado judaico, reforçando o papel de Maria como Israel Virgem. O cocho, localizado em Belém (“Casa do Pão”), simboliza Jesus como o pão da vida, cumprindo as expectativas judaicas de provisão messiânica (João 6:35, ACR: “Disse-lhes Jesus: Eu sou o pão da vida”). O ato de Maria de colocar Jesus na manjedoura prenuncia Seu papel sacrificial, ligando-a ao cordeiro da Páscoa e à redenção de Israel. Essa imagem retrata Maria como a mãe fiel do Messias, encarnando a esperança de Israel.
A identidade judaica de Maria, como Miriã e Israel Virgem, é central para a visão teológica de Lucas. Seu nome e ações Old Testament suas ações a conectam às tradições proféticas e da aliança de Israel, apresentando-a como a discípula ideal que confia nas promessas de Deus. Por meio dela, Lucas une o Antigo e o Novo Testamento, mostrando que o nascimento do Messias cumpre as esperanças de Israel enquanto estende a salvação a todas as nações. A história de Maria, enraizada em sua fé judaica, convida os leitores a vê-la como um modelo de obediência e confiança no plano redentor de Deus.
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